As vendedeiras de fruta de Avintes a negociarem com os regatões

Vendedeiras de fruta de Avintes

Gravura de Coelho

"A nossa gravura copia o quadro que na secção portuguesa da exposição universal de Paris figurou sob o número 1673, representando com muita felicidade uma das mais graciosas cenas em que aparecem os regatões do Porto a comprara fruta às mulheres de Avintes, que é o pomar da cidade eterna.

Povoação belíssima, com suas casas de granito, Avintes levanta-se sobre a margem do Douro, e braceja-se caprichosamente pelas colinas convizinhas.

A estrada geral que sai do Porto, e segue as sinuosidades do rio, é por aquelas alturas que se prolonga até às fronteiras de Espanha.

Avintes é freguesia do concelho de Gaia, distrito administrativo do Porto.

Os seus habitantes são desde muito notáveis pela sua industriosa actividade e aptidão aos trabalhos da agricultura.

No fabrico do pão e na cultura dos belos frutos com que diariamente abastecem os mercados do Porto, se empregam geralmente.

Além disto, esta tão interessante e tão útil povoação recomenda-se por outro título aos olhos do artista.

Ainda que alimenta com seus produtos uma das cidades mais populosas da Península, Avintes distingue-se mais por conservar religiosa e inalteravelmente os trajes pitorescos dos seus antigos povoadores.

Tudo ali veste manufactura portuguesa, e as mulheres resguardam-se do sol esplêndido, que amadurece os frutos dos seus férteis pomares, usando um grande chapéu de feltro, rodeado de borlas pretas, que trazem à lembrança alguns toucados do século XV.

Todo o empenho dos regatões, que compram por junto para vender a retalho, é não deixar chegar estas honestas aldeãs ao coração da cidade.

É por isso que todas as manhãs lhes vão ao encontro, mesmo no porto, no sítio chamado Ribeirinha, espécie de mercado que tem por segundo plano as belas margens do Douro, e onde se passa uma multidão de cenas animadas que realçam a jovial simplicidade daquelas camponesas marginais, simplicidade tantas vezes cantada pelos poetas, e sempre poderosa na sua inspiração.

É naquele lugar e naquela hora que a antiga lealdade das belas filhas dos campos que se vê a braços com a astúcia dos regatões, que de cada uma das nações, cujas bandeiras tremulam no rio, tem aprendido uma particular subtileza. (...)"

Fonte: "Arquivo Pitoresco" - nº8 – 1857 (texto editado e adaptado)

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