Ilha da Madeira - aspetos etnográficos (1896)

Ilha da Madeira - Mulher do Campo ou Viloa

A formosa ilha da Madeira, encanto dos viajantes que a visitam, tem dado assunto por mais de uma vez às páginas do OCCIDENTE, onde têm sido publicadas gravuras e artigos referentes, a vários pontos e costumes deste arquipélago.

Mas por mais que exploremos as suas belezas, mais temos que explorar, quer a apreciemos sob o ponto de vista dos dotes naturais, quer analisemos os seus costumes pitorescos, ou investiguemos a sua História.

Hoje apresentamos aos nossos leitores a reprodução, em gravuras, de umas belas fotografias do sr. Camacho, representando a primeira uma vista da vila de Câmara de Lobos, e as seguintes, costumes e tipos referentes ao arquipélago madeirense.

A vila de Câmara de Lobos é uma das terras mais lindas da ilha da Madeira, se é que pode haver preferências, e ao mesmo tempo de mais alta importância histórica, por ser o ponto em que desembarcaram os primeiros portugueses que descobriram a ilha.

A vila de Câmara de Lobos, ou Cama de Lobos, como vulgarmente lhe chamam, é cabeça de concelho com cerca de 500 fogos e 14.000 habitantes.

Ilha da Madeira - Vila de Câmara de Lobos

Tem uma excelente baía na costa sul que é magnífico porto de mar, e no extremo oeste do concelho, o cabo Girão que entra pelo Oceano.

Vários são os pontos mais elevados que possui, de que mencionaremos o da Ponta d'Agua e o da Ponta do Sol, que fica no seu concelho e que é assim denominado porque em todo o ano, dali se vê o sol desde que desponta até se sumir no ocaso, podendo, além disto, contemplar-se daquela eminência o risonho panorama da Costa do Sul, que decorre da Ponta d'Agua à do Jardim.

A costa Sul, onde está situada a vila da Câmara de Lobos, pela amenidade do seu clima e melhor abrigo para as embarcações, contrasta frisantemente com a Costa Norte, onde, além do Porto Moniz e Porto da Cruz, somente o Porto da Boa Ventura oferece ancoradouro e ainda assim a respeitosa distância da terra.



Os outros portos só podem ser frequentados por barcos costeiros, que se conservam distantes da costa e aí recebem a carga em pipas e barris bem vedados, que se lançam ao mar e que os barcos vão apanhar na corrente.

Pelo mesmo processo são feitas as descargas, com a diferença que as pipas ou barris, são impelidos para a terra por homens que se metem na água e os vão guiando.

É realmente original e curioso este processo de carga e descarga das embarcações, na Costa Norte da ilha da Madeira.

Não menos curiosos são os meios de condução empregados geralmente na ilha da Madeira, e que têm a sua razão de ser, no terreno acidentado de grandes elevações pedregosas e de muito difícil trânsito para solípedes.

Ilha da Madeira - rede para transporte de passageiros

Transporte de pessoas em redes ou machilas

("Ilustração Portuguesa", nº500 - 1915)

Assim as redes ou machilas conduzidas por homens é um dos meios de transporte de passageiros, que deste modo são conduzidos de uns pontos a outros da ilha, com mais comodidade e segurança, vencendo as distâncias em pouco tempo, porque os carregadores que conduzem as redes são bons andarilhos.

Os carros, como o que a nossa gravura representa, são outro meio de condução para mais de uma pessoa.

Estes carros feitos de madeira e de verga, são relativamente leves e a junta de bois que os puxa, facilmente os transporta, quer no caminho plano, quer nas íngremes ribanceiras escorregadias de burgau da praia.

Ilha da Madeira - Carro para transporte de passageiros

Para abrigar os passageiros, têm cortinas e toldo de oleado, e são guiados por um homem, que atrás do carro o vai encaminhando, e por um rapaz que vai adiante a que se chama candieiro.

Das mulheres do campo ou viloas que diremos?

Que são geralmente formosas como é proverbial daquelas filhas do Oceano, deixai-nos assim dizer, e não menos que a sua beleza, são os seus trajos coloridos e pitorescos de certa originalidade, muito especialmente na carapuço de bico espetado para o ar nota singular do seu vestuário, e que vai perfeitamente uma cara bonita como, têm geral as madeirenses.

Fonte: "Occidente", nº646 – 1896 (texto editado e adaptado) | Imagens: cópias de fotografias do sr. Camacho

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