A vida dos marinheiros do Rio Douro (1)



 
«O «barco rabelo» é talvez a última relíquia das primeiras embarcações peninsulares e, pelo seu todo característico, pelo seu aspecto nunca modificado, é porventura ainda o mesmo que os Fenícios construíram quando, nos tempos lendários da História Antiga, demandaram as costas lusitanas e ganharam os rios. 

O célebre historiador Estrabão refere-se aos «barcos rabelos».

«Barco rabelo» subindo o Douro,  em frente à Ponte do «Porto Manso»



Nenhum outro barco pode navegar o Douro e, se às vezes, nas «barcas de passagem», o tipo fundamental sofre modificações, quer sejam guiadas pelas fortes moçoilas de Avintes, nos arredores do Porto, ou liguem, em Cima Douro, a Beira esforçada a Trás-os-Montes enérgico – a sua configuração não muda, é a mesma, só adaptada a outro fim.

«Barco rabelo»  atracando ao caes dos Guindaes no Porto


Minguado no verão o Douro que navegam, no Inverno parece um mar; e é por isso que se chamam «marinheiros» aos tripulantes dos «barcos rabelos», reservando o nome de «barqueiros» para os das «barcas» que transportam os passageiros daquém para além Douro.

«Barco rabelo» subindo o rio em frente a Avintes»


A configuração única do «barco rabelo» tão grande, semelhando uma nau, que às vezes chega a carregar 80 a 100 pipas, é caracterizada pela «espadela», comprido leme ou «rabo» donde tiram o nome e que por vezes tem mais de 10 metros. 

Move-a o «mestre» ou mesmo o «arrais» que vai nas «apegadas», espécie de andaime superior ao «sagre» que é o verdadeiro cavername e o qual termina na ré, pelo «taburno» coberto onde são guardados os mantimentos. 

Porém, o que torna mais elegante e mais típico o «barco rabelo» é a sua enorme vela enfunada, semelhando um «papagaio» colossal, que a rude brisa do rio entumesce, fazendo singrar o barco altivamente sobre o talweg, rápido e enrugado, que foge por entre a penedia informe e polida até à barra.

«Barca de passagem» atravessando o rio à rara nas «Caldas do Moledo»


É majestoso então o «barco rabelo» com a sua «maruja» de camisolas brancas, fazendo as manobras, «braceando» a vela às ordens do «imediato», ao som de cantigas alegres e ao deixar o Porto trabalhador, heróico, levando pipas vazias «rio acima», para depois as trazer na volta cheias do mais generoso vinho do mundo!»

«Barca de passagem» atravessando a margem nas «Caldas do Moledo»


Amílcar de Sousa - Cheires – Alto Douro – 7-3º-1906
Texto (adaptado à grafia actual) e fotos: Illustração Portugueza – nº9 S/d (1906)

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