Mulher de Grijó | Tipos portugueses do Norte
Mulher de Grijó
“Grijó é povoação
do Douro pertencente ao concelho de Vila Nova de Gaia e distrito do Porto.
Está situada
numa baixa, perto do oceano, em terreno bastante acidentado, que a torna muito
pitoresca, como pitorescos são os trajes dos seus habitantes, de que
apresentamos a nossos leitores um belo tipo de mulher de Grijó, uma lavradeira,
com o seu traje de dia de festa.
Saia de pano
bem rodada, corpo de veludo com bandas e canhões enfeitados a tufos de seda que
forma também cinto. Canhões e gola guarnecidos de renda.
Sobre o colo
assentam lhe os corações e estrelas de filigrana de ouro que lhe pendem de
grossos cordões do mesmo metal precioso, pendendo lhe também das orelhas compridos
brincos de ouro, como cachos, que vem confundir se no aurífero colo reluzente
que nem mostrador de ourivesaria.
Algumas destas
mulheres trazem em cima de si um quilo e mais de ouro, que é todo o seu luxo e
muitas vezes todos os seus haveres, pois nele convertem as suas economias
feitas à custa de muitas privações.
É um capital
morto que ali têm e que só lhe aproveita quando absolutamente lhe faltem todos os
recursos, não lhes servindo para acrescentarem seus bens, empregando essas
economias em coisa que lhes renda.
Assim está parado
de séculos o espírito de iniciativa daquela boa gente.
Mas continuando
a descrever o belo tipo da mulher de Grijó, este se completa no seu traje com o
elegante chapelinho ou gorro todo enfeitado de flores e frutos, que lhe coroa a
fronte, assentando sobre o lenço de seda de cores vistosas que lhe envolve as
trancas de cabelo que se espadanam pelas costas.
O traje é,
sobretudo, assaz pitoresco, e quando ele assenta numa mulher formosa como o
tipo que a nossa gravura reproduz, mais sobressai ainda porque a beleza natural
é o melhor complemento da toilette
feminina.
As nossas províncias,
especialmente do norte, abundam nestes pitorescos trajes, como em mulheres
formosas e ao mesmo tempo de robustez e vigor incomparável, como não é fácil
encontrar por esse mundo fora.”
Fonte: “Occidente”
– nº 1217 – 20 de Outubro de 1912 (texto editado e adaptado)