A procissão na aldeia

Um aspecto da procissão durante a Romaria da Senhora das Dores na Trofa (1914)


A procissão na aldeia

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja! -
Vai passando a Procissão.

Mesmo na frente, marchando a compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.

Olha os bombeiros, tão bem alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num fole.
Trazem ao ombro brilhantes machados,
E os capacetes rebrilham ao sol.

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja! -
Vai passando a Procissão.

Olha os irmãos da nossa confraria!
Muito solenes nas opas vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia havia
Tantos bigodes e tais sobrancelhas!

Ai que bonitos vão os anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em casa!
Um deles leva a coroa de espinhos,
E o mais pequeno perdeu uma asa!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia - que Deus a proteja!--
Vai passando a Procissão.

Pelas janelas, as mães e as filhas,
As colchas ricas, formando troféu.
E os lindos rostos, por trás das mantinhas
Parecem anjos que vieram do Céu!

Com o calor, o Prior vai aflito.
E o povo ajoelha ao passar o andor.
Não há na aldeia nada mais bonito
Que estes passeios de Nosso Senhor!

Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia - que Deus a proteja! -
Já passou a Procissão.

António Lopes Ribeiro

Andores na procissão da Romaria da Senhora das Dores na Trofa (1914)


Imagens: «Ilustração Portuguesa», nº446 - 7 de Setembro de 1914

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