Vendedor de capilé na cidade de Lisboa - 1908

Vendedor de capilé na cidade de Lisboa - 1908


“Eram vendedores ambulantes que se podiam encontrar em certos pontos da cidade de Lisboa na época de verão e que vendiam este tipo de refresco a quem queria matar a sede nesses dias tórridos de muito calor.

O capilé é um xarope feito a partir de folhas de avenca, com um toque de água de flor de laranjeira e açúcar amarelo, diluído em água para uma bebida levemente doce, subtilmente perfumada e extremamente refrescante.

O capilé, por si é uma bebida lisboeta característica, de grande popularidade e afamado em outros tempos. A sua receita remonta ao século XVIII.

O xarope de capilé é referido no livro de receitas, "O cozinheiro Moderno ou Nova Arte de Cozinha", da autoria de Lucas Rigaud, no ano de 1780.

Em ocasiões de cortejos cívicos, procissões, feiras ou paradas militares, desde que houvesse ajuntamentos, em tempo quente de verão, logo surgiam os típicos vendedores também conhecidos por "homens da água fresquinha ou capilé".


Para ler: Pregões de Lisboa - As leiteiras


Fazia parte dos aparatos de trabalho destes vendedores para este negócio um tabuleiro de chapa de zinco com três ou quatro pernas, tipo mesa, dois copos de vidro, uma ou mais garrafas de xarope de avenca, um açucareiro, limões e um canivete para os cortar.

A água vinha em bilhas de barro com uma rolha trespassada por um pedaço de cana, que servia de tubo, para não ter de a destapar mantendo a bebida fresca e isolada. Tinham o requinte, para além da mistura, aromatizá-la com uma casca de limão.

Alguns destes vendedores usavam pequenos carros de mão em madeira para transportarem os aparatos do seu negócio. Depois de se instalarem em local estratégico e visível apregoavam a lengalenga: 

" Água fresquinha ou capilé, copo com água...!"

"Capilé, copo com água! Água fresquinha ou capilé!"

Mesmo que só tivessem um banco como utensílio de trabalho, a freguesia não faltava, com ou sem sede e os copos mal lavados, passados por pouca água à pressa no momento, pois o líquido era precioso para continuar o negócio.

Crianças e adultos deliciavam-se com os refrescos destes vendedores.


Para ler: Varina de Lisboa - Trajo antigo (1898)


Para além destes vendedores ambulantes de capilé que ficaram famosos na cidade de Lisboa, existiam igualmente estabelecimentos que comercializavam esta bebida, designados de “casa própria”, assim como em  alguns quiosques da cidade.

Ainda hoje se comercializa este xarope para a famosa mistura de capilé, a receita é a mesma, mas já não terá o mesmo sabor e encanto de outrora, quando os refrigerantes que hoje conhecemos não existiam e esta bebida no verão era um êxito comparada com as dos nossos dias.”

Imagem - Fotografia de Joshua Benoliel | Capa da Ilustração Portuguesa, agosto de 1908

Texto retirado daqui. 

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