Nas Praias de Portugal - Espinho em 1887

Em Espinho - Costumes

(Segundo uma fotografia de Biel e C.ª)


A alva praia de Espinho

Quem há aí no nosso mundo elegante que não conheça Espinho com a sua alva praia e os seus formosos chalets?

Quem não tenha ali respirado o ar balsâmico dos pinheiros e afogado o seu nervosismo entre as espumantes ondas do oceano, que ora se espreguiçam indolentemente por sobre a branca areia da praia, ora se elevam arrogantes ameaçando os alegres chalets.

E, entretanto, ainda há poucos anos a praia de Espinho era apenas frequentada por algumas famílias, do norte, que principiaram a edificar habitações para a sua estada ali.

Foi assim que Espinho, uma pobre povoação de pequenas barracas de madeira mal dispostas, a que chamavam palheiros, habitadas por pobres pescadores, se foi transformando pouco a pouco na formosa povoação que hoje se vê, e cuja regularidade das suas ligeiras edificações bem arruamentadas, fazem inveja aos bairros de muitas cidades.

Foi, em 1843, que José de Sá Conto, rico fabricante de papel, da freguesia de Oleiros, fez ali uma bela casa de pedra e cal, de um andar.

A esta construção foram seguindo-se outras de proprietários da Feira, que com suas famílias principiaram a frequentar a praia do Espinho, na temporada dos banhos do mar.

As construções, que primeiro se faziam irregularmente a capricho dos seus donos, submeteram-se depois aos alinhamentos que a câmara municipal da Feira mandou traçar, formando ruas regulares.

Florescente povoação

Deste modo surgiu dentre um montão de barracas indigentes e tristes uma florescente povoação alegre, de grande animação na época balnear.

Os hotéis disputam entre si primazias na maneira de melhor servirem os seus hóspedes, os cafés, os bilhares, os restaurants procuram imitar as cidades mais civilizadas das províncias.

Depois, o Clube é o grande centro de reunião dos banhistas, e lá se sabem as grandes novidades da política, lá se leem os jornais, lá se entretém as palestras, lá se improvisam os concertos e outros divertimentos, onde não faltam os jogos para passar o tempo.

E naquelas reuniões onde se encontram famílias de quási todas as principais terras do país, adquirem-se conhecimentos e estabelecem-se relações, que constituem uma enorme família que todos os anos ali se reúne e convive na mais estimável intimidade.

Espinho é hoje perfeitamente uma vila moderna, que para tudo ter, até a locomotiva espalha por sobre ela as suas abundantes nuvens de fumo negro que a envolve de vez em quando juntamente com os silvos agudos da máquina do comboio que se aproxima ou vai partir da sua estação.

Romaria à Senhora da Saúde

Uma modesta capela ergue-se dentre o povoado, a todos os anos veste as suas melhores galas para receber a grande romaria que das terras próximas e até do Porto, Aveiro, Ovar e Feira vem festejar a Senhora da Saúde.

A população indígena não excede a mil almas, mas na época dos banhos é esta população consideravelmente aumentada, como facilmente se depreende, pelos banhistas que a elevam a mais de três mil habitantes.

A estação de banhos em Espinho é das que mais se prolongam, pois dura desde julho até novembro.

É fácil avaliar a importância que esta estação tem para o comércio de Espinho e para os seus habitantes, que grande parte se empregam ao serviço dos banhistas.

Outra parte da população explora a indústria da pesca, que é sobre tudo abundante de sardinha de óptima qualidade.

A imagem registada

Os seus costumes não oferecem nada de particular comparados com o de outras povoações costeiras, e a gravura que publicamos, cópia de uma fotografia dos srs. Biel e C.ª, do Porto, recomenda-se mais como um quadro da natureza, colhido em flagrante pela objectiva da máquina fotográfica, do que pela singularidade dos trajes das figuras nele representadas.

Aquelas mulheres andam na sua lide quotidiana, conduzindo água da fonte nas suas bilhas ou potes.

E isto o que mais ressalta do quadro: outras vão pelo seu caminho levar a refeição ao pai ou ao marido que está trabalhando longe.

Espinho pertence à província do Douro, freguesia de Anta, distante 24 quilómetros a Sul do Porto, 10 quilómetros a Oeste da Vila da Feira, e 285 quilómetros ao Norte de Lisboa.

Fonte: "Occidente", nº316, 1887 (texto editado e adaptado)

Nota: Uma leitora comentou na página do FB dos Amigos do Portal do Folclore Português o seguinte:

«"Fonte do Mocho". A linha de água continua, mas a fonte já não existe - actualmente está dentro dos limites do Parque de Campismo.»

Outro leitor, Augusto Sousa, enviou-nos informação complementar:

«Serve para informar, que a Fonte do Mocho, não está dentro da área do parque de campismo, mas sim por baixo da ligação criada depois de 1974, que liga Espinho a Gaia. Hoje encontra-se em obras toda essa zona, ficando a restar as ruínas de um moinho que fica entre a dita rua e o parque de campismo.

Entre esse moinho e o parque ainda se pode observar a ponte da C.P, que servira para a mudança da linha aquando das invasões do mar."

Agradecemos.

Espinho - à espera da rede

(Cliché de Dr. Franco de Vasconcellos - amador)
"Serões" - nº6 - 1901

Sugestões:

Mensagens populares deste blogue

Lavadeiras de Portugal - mulheres extraordinárias

Danças Populares e Tradicionais Portuguesas (1)

Costumes Lisboetas - A Peixeira / Varina

Barco rabelo à sirga - no Rio Douro

A vida dos marinheiros do Rio Douro (1)

Profissões antigas - O Tanoeiro

Profissões e trajes de Lisboa antiga (1938)

Campinos do Ribatejo

Conjunto escultórico no Jardim do Mouchão - Tomar

Vila Franca do Lima, a terra dos cestos de flores e da Festa das Rosas