Um pescador de Aveiro - Costumes Portugueses
Costumes Portugueses - Um pescador de Aveiro(Desenho de M. de Macedo, segundo uma fotografia do sr. Carlos Relvas) |
A imagem
publicada reproduz um dos tipos de Aveiro - o pescador, colhido habilmente pela
máquina fotográfica do primeiro fotógrafo-amador português, o sr. Carlos
Relvas, que bizarramente nos presenteou com uma primorosa fotografia.
A gravura de
hoje completa a descrição que Monteiro Ramalho publicou então, e tudo quanto
agora disséssemos não seria mais que uma repetição, isto no que o tipo do
pescador de Aveiro possa ter de especial e singular.
No geral é um
pescador como todos os do seu mister, que vive à mercê da bonança que o deixa
exercer a sua indústria, ou morre no meio dos temporais tragado pelo mar, se
estes o surpreenderam no meio da sua pesca, ou a imperiosa necessidade o
obrigou a afrontar-lhes as iras.
É de todos os
misteres a que o homem se pode dedicar o mais rude, o mais elementar.
É raro
encontrar um pescador que saiba ler, cremos mesmo que não haverá nenhum.
É igualmente
raro encontrar algum que seja rico ou pense em o ser.
Esta completa
ignorância dos bens da terra, das comodidades, das ambições ou aspirações do
homem, a estreiteza do mundo como eles o imaginam, reduzido ao seu barco, à sua
rede e à sua choupana, não deixa de lhes dar uma felicidade a seu modo, e só se
lamentam da sorte quando o mar lhes não deu peixe e eles não têm que comer.
Se a pesca,
porém, corre à farta, se os seus barcos se atestam de peixe, o pescador está
contente, a sua felicidade resume-se ali, e nem pela ideia lhe passam os
perigos constantes a que estão expostos, as asperezas da profissão, a vida
desgraçada que passam, sempre em luta com a morte, para mal ganharem o pão
nosso de cada dia!
É uma classe
tão útil quanto desprezada e desprotegida.
O seu trabalho
nem sequer os tira da indigência, e, entretanto, com o trabalho destes homens,
há muito quem enriqueça sem risco de capital.
Pobres
pescadores.
Fonte: "Occidente", nº239, 1885 (texto
editado e adaptado)