A Feira das Mercês – Sintra, em 1918
Feira das Mercês - O carroussel |
A Feira das Mercês (1918)
Encantam-me
sempre as feiras em Portugal.
Delas dimanam
ao meu sentir toda a gama de poesia e atracão campesinas que elas possuem, através
da sua simplicidade.
Toda a feira
tem uma psicologia própria, falam à alma de cada região, de cada povo.
Poderemos
analisar nelas a força, a elevação da alma popular, nos seus usos, costumes, nas
suas manifestações tradicionais.
As Mercês é um pequeno lugarejo próximo de
Sintra, situado numa região altamente poética [região saloia].
O panorama é
soberbo, e a sua linha de horizonte, onde se avista a serra de Sintra, a ondulação
dos seus montes, o oceano, é uma tela sugestiva, onde a beleza capricha no
divinal conjunto das suas combinações.
No mês de
outubro, nunca deixo de visitar as Mercês
pela ocasião da feira.
O ano passado
fazia um calor abrasador; o sol espalhava os seus ardentes raios pelos campos,
enchendo-os de uma luz vivificante, parecendo que os pinheirais e o murmúrio
das fontes e dos regatos, estavam paralisados sob um silêncio tonificante de
resignação sofredora.
Apenas ao cair
da tarde uma leve aragem refrescou a atmosfera, como um bálsamo acariciador.
A feira tem de
tudo, gado, cereais, louças, frutas, cabedais, ferragens, etc.
Fazem-se todos
os anos transações importantes, principalmente em gados e cereais
Das feiras
realizadas próximo de Lisboa, é esta a mais característica, não faltando os
grupos de namorado, onde o amor voeja e palpita de coração para coração.
Não devemos desprezar
estes costumes do nosso Portugal, estão neles a alma da nação, desta Pátria que
tem sido cantada por trovadores e poetas, terra de heróis, berço de santos.
Feira das Mercês - «Quanto custa o púcaro?» |
Feira das Mercês - Comidas e bebidas |
Feira das Mercês - Um aspeto da feira |
Alfredo Pinto
(Sacavém)
Fotografias do
autor
Fonte:
"Revista de Turismo", nº49, 1918 (texto editado e adaptado)