As rendas de bilros em Peniche – rendilheiras a trabalhar!
Rendilheiras a trabalhar em Peniche |
"Como na Itália, em que à indústria rendeira se prende
uma poética lenda, em Portugal são as mulheres dos pescadores que, desde
remotas épocas, fabricam a renda de
bilros.
Em Peniche
alcançou esta indústria maior desenvolvimento, e as rendas finas no género Malinas,
as guipure,
as torchon,
mesmo as valencianas, se executavam ali delicadamente.
Pelo meiado desde século [séc. XIX] elevou-se o fabrico das
rendas de Peniche a grande perfeição, depois decaiu, tornando-se geralmente
mais inferior a execução e menos correctos e escolhidos os desenhos.
A criação duma escola industrial em Peniche veio dar novo impulso à indústria rendeira.
A primeira professora dessa escola foi D. Maria Augusta Bordallo Pinheiro, quer estudando com interesse
essa velha indústria nacional, se apaixonou por ela, e consagrando-lhe toda a
dedicação da sua alma de artista, toda a sua extraordinária actividade, criou
sobre a antiga indústria uma indústria nova, dando-lhe um elevado cunho
artístico, que a torna rival das ricas rendas de Flandres, a que as de D. Maria
Augusta Bordallo se assemelham em particularidade de fabrico.
Todas as mulheres de
Peniche, seja qual for a sua classe, fazem renda.
É ela o único recurso das famílias de pescadores durante os
longos e míseros invernos.
Nunca se encontram aqui as mulheres das classes marítimas,
como as encontramos nas povoações do norte, escorchando sardinhas ou apanhando
sargaço; a sua única ocupação é a renda,
trabalho a que começam a aplicar-se logo na infância.
As crianças de quatro a cinco anos passam já a maior parte do
dia sentadas à almofada, e desta vida, em extremo sedentária, deve resultar o
tipo franzino das mulheres de Peniche."
In "Branco e Negro", nº69 - 1897 (texto editado e
adaptado)