Cenas do Minho ou a força indesmentível do "sexo fraco"
Cenas do Minho |
A província do
Minho é tão pitoresca quanto são os seus costumes.
Se por um lado
a paisagem nos delicia os olhos, como a de um jardim em plena florescência, os
costumes que ali se observam são tão pitorescos como a paisagem na variedade
das formas e do colorido, acrescendo ainda a vivacidade dos habitantes que dão
vida e movimento às cidades e às aldeias.
Uma dos
características da vida do norte de Portugal é as mulheres empregarem-se nos
trabalhos dos campos e em outros misteres, que em geral, no sul, são reservados
para o sexo forte.
Assim elas
cavam e lavram a terra, que os maridos, os pais ou os filhos deixaram para
emigrarem para o Brasil, e esta corrente de emigração, que infelizmente não
cessa apesar de todas as desilusões, é que faz com que no norte de Portugal
escasseiem os braços masculinos e válidos, para só se verem, por assim dizer,
mulheres, velhos e crianças.
As filhas das
províncias do Minho e do Douro veem-se, por isso, obrigadas a
desenvolver uma actividade pouco em harmonia com o seu sexo e deitam-se a todo
trabalho por mais custoso e impróprio que seja para as suas forças.
Isto tomou se
tão natural naquelas províncias, que os homens, mesmo válidos declinam nas
mulheres muitos dos trabalhos que lhe são próprios, como se vê na nossa
gravura, feita sobre um desenho do Sr. Manuel de Macedo que representa uma cena
do Minho bem colhida do natural,
como quem conhece perfeitamente aqueles costumes.
No caminho vem
o carro puxado por uma junta de bois pequeninos, mas bem armados, raça especial
que ali se encontra.
A canga alta e
recortada em desenhos caprichosos é outra característica da província do Minho.
É a mulher e
não o homem, como seria próprio, que segura o aguilhão e a soga, guiando os
bois, enquanto o homem, em cima do carro, os vai espicaçando para eles andarem.
Observa-se bem
o esforço da mulher que vai calcando o caminho e como que ajudando os bois a
conduzir o carro, o que contrasta com o homem, que vai no carro e que dali
apenas secunda os esforços da sua companheira, mas sem se incomodar muito.
Fonte: "Occidente", nº 722, 1899 (texto
editado e adaptado)