O catraeiro - Tipos portugueses

O catraeiro

"É o descendente do barqueiro que andava em todas as canções poéticas de há cem anos.

Um bravo que tinha pelo mar uma paixão, tipo romântico que se filiava na legenda dos gondoleiros de Veneza.

Usou barrete vermelho à Frígia, veio do norte, de alguma colónia à beira mar, encher aqui a missão de passar para o outro lado do rio fidalgos e moçoilas nos dias de círios ricos.

Não levava mercadorias no seu batel engalanado, deixava isso às embarcações de....

Ele vivia de conduzir gente para as festas e para a margem bela da Outra Banda.

Depois vieram os vapores e o barqueiro entrou a topar tudo.

Deixou as vestes românticas, fez-se prático, o batel entrou a ser catraio e ele a fazer todos os transportes.

Agora raramente leva gentes às festas, vive de conduzir fardos para bordo dos navios que não atracam aos paredões das doces.

É um misantropo.

Mal fala, como se tivesse saudades doutros tempos ou como se esperasse o fim da profissão com alguma nova ideia, por exemplo, a dos barcos automóveis.

Mas enquanto eles não veem, fuma tranquilamente o cachimbo e olha o rio, esperando que o chamem para o trabalho."

Fonte: "Ilustração Portuguesa", nº 108 – 1906

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