O embarque dos Círios no Aterro para a Atalaia
O embarque dos Círios no Aterro |
É ali, defronte
da Companhia do Gaz que os círios embarcam na sua maior parte.
O círio é um
velho uso português que foi todo de devoção e de fé, agora transmudado num
pretexto para folgar.
Antigamente
cada classe fazia o seu círio e assim os empregados da Alfândega, os do
comércio, os calafates e os polieiros tiveram os seus, que foram todos de
luzimento.
Um dos mais
formosos cirios para o qual até a Casa Real cedia um coche era o da Senhora
do Cabo.
Ainda hoje, na
estrada de Belas, existe uma casa que tem uma lápide de azulejos, entre duas
lanternas, que jamais se acendem, e onde se relata ter a imagem da Senhora
abandonado a sua igreja e fugido para ali, buscando escapar ao vandalismo dos
franceses quando foi da invasão.
Então os povos das localidades vizinhas justaram a fazerem o círio à Senhora do Cabo, círio que teve uma importância enorme, mas todas essas manifestações da crença tendem a desaparecer ou a mudar, agora servindo apenas de pretexto para uns dias de descanso, sem cuidados...
Fonte: "Ilustração Portugueza", nº44 - 5 de Setembro de 1904 (texto editado e adaptado)