Tipos portugueses: pescadores, varinas, campinos, devotos e ganhões

Acendendo o cachimbo

São bem nossas as figuras que a fotografia fixou neste dupla página.

São bem a alma da pátria portuguesa, porque ela compõe-se de todas estas coisas que nos passam despercebidas por serem vistas a cada momento, mas que a nossa memória reproduz insistentemente quando nos encontramos longe de Portugal.

Cada país tem o seu guide, o seu carácter, a sua gente, e esta com o seu modo de viver e de proceder, que noutro país se não observam.

Qualquer dos tipos que aqui se apresentam, o pescador, o velho que acende o cachimbo, o campino, o ganhão, as varinas, a ceifeira, os garotos da praia e as velhinhas, uma enfiando a agulha, outra rezando as contas, não podem ser espanhóis, franceses, ingleses, italianos...

E não é só pelos trajes que se conhece que são da nossa terra.

É também pela atitude, pela expressão do rosto, por qualquer coisa inexplicável que neles existe e que se casa maravilhosamente com a suavidade do nosso céu, com a alegria do nosso campo e com a melancolia do nosso mar.

Destaque-se qualquer destas vinhetas, sem a designação que a acompanha, misture-se co outras, estrangeiras, e pergunte-se seja a quem for, a que país o original pertence.

- A Portugal, responder-se-á, sem hesitação.

E é consolador o ver-se que todas as expressões surpreendidas pelo fotógrafo ou pelo pintor, em dois ou três quadros reproduzidos, são de bondade e de júbilo - não da bondade que chega à submissão, nem do júbilo que atinge demasias ruidosas, mas duma natural doçura e dum comedido deleite, reflexos de espíritos desanuviados e rectos.

Na última gravura, Garotos da praia, é que não predomina o comedimento, nem era de esperar que o houvesse.

Mas são ainda portugueses de lei esses gaiatos, que se riem exuberantemente e fitam com irreverência a objectiva, porque, apesar de não pertencerem, como se adivinha, às classes abastadas, mostram que, se o pão lhes falta em casa, contentam-se com o pouco que lhes dão, julgando-se suficientemente compensados com o bom sol de Portugal, que a ninguém nega as suas pródigas carícias.

Enfiando a agulha

Varinas

Cliché de Vasconcelos

O pescador

A ceifeira


Campino

Clichés do sr. Homero Câncio (Alhandra)

Rezando as contas


Ganhão

Cliché de Fernandes Tomás - Studio

Garotos da praia da Nazaré

Cliché do Dr. J. F. César Júnior


Fonte: "Ilustração Portuguesa", nº788 - 1921

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